Estórias de “Caminhos”
Hoje, vou começar aquilo que há muito prometi a mim mesma fazer: escrever sobre os meus ”Caminhos”(viagens realizadas em bicicleta dupla- uma tandem, por mim e pelo meu maridão Aires.)Não vai ser o relato de uma viagem, mas sim episódios que me marcaram: por serem algo que não estava à espera de acontecer! À medida do que me for lembrando, vai saindo por esse motivo, no começo eu vou por a data e o “caminho”, para vocês se localizarem no tempo e no espaço:
" Os javalis!"
Estamos em 2013, no “caminho Francês” entre Sait Jean Pied du Port e Santiago de Compostela .( cerca de 900 Km- duração do caminho 18 dias.) Acabámos de sair de Villafranca del Berço, num dos dias mais quentes daquele mês de Julho! Estávamos cansados, o Aires já não sabia o que comprar para comer… íamos andando, até que em Perexe, uma terrinha espanhola, encontrámos um rio, o lugar parecia o ideal para descansar: local fresco, o rio a correr perto, muitas cerejeiras, um sítio lindo: então vamos montar a tenda- assim fizemos. Come-mos, deitámo-nos, anoiteceu… começamos a ouvir uns grunhidos… o Aires levantou-se, veio cá fora e viu: eram javalis!! Foi assim toda a noite: eu ouvia-os chamava o Aires, ele ia enxotá-los lá fora ! Foi assim toda a noite, ainda pusemos a luz da bicicleta a piscar(os animais selvagens, têm medo do fogo…), mas eles depressa se habituaram. As cerejas eram boas?? Talvez, mal amanheceu , levantámos as coisinhas, nem foto tirámos, não comemos cerejas, nada… nem olhámos para trás…
"Encharcados até aos ossos!"
Já sabia que isto me ia acontecer: tanto para contar que não sei por onde começar:
Caminho da Costa, (2012)uma terça feira de Agosto, por sinal de Agosto só no Calendário, chovia tanto, mas tanto: saímos de um campo de futebol onde tínhamos dormido, direcção Esposende, para encontrar-mos um amigo que conhecemos em 2010 no comboio- Santiago- Vigo-Esposende. Nós chegámos lá mas tão encharcadinhos que parecíamos dois patos: quando chegámos à “ Propedal”( loja do filho de um amigo dos “caminhos”)fazíamos um charco no chão…molhadinhos até aos ossos!
"O espanhol..."
2012- Caminho da Costa. Estamos em Agosto (calorzinho bom). Vigo-Espanha: uma praia cheia de gente! Entre essa multidão “aparece” um Senhor que nos diz “ Estava à vossa espera!”. Olhámo-nos incrédulos- Nunca o tínhamos visto. Nem mais nem menos, outro amigo do Caminho, estava a seguir-nos desde o Porto. Estava à nossa espera para nos ajudar a passar por Vigo ( nas cidades grandes, torna-se mais fácil perdermo-nos, porque temos muita informação, é-nos mais difícil ver as setas amarelas!)
"Verin"
Estamos em 2011.Caminho do Interior-chegámos a Verin de noite, onde vamos dormir?? Há uma praia fluvial com relva, vamos lá pernoitar! Tomamos banho no rio, com a roupa vestida –já fica lavada, montámos a tenda e toca a dormir; de madrugada começamos a sentir um som estranho! “O que é aquilo?-É o sistema de rega! Nós muito quietinhos dentro da tenda, a água a molhar a nossa roupa que tinha enxugado ddurante a noite!
"Os anjos, dinamarqueses!"
2012- Caminho da costa: já saímos de Esposende há dois dias, no Albergue usando “o caminhes”( língua universal usada por todos os peregrinos, que sabem um pouco de todas as línguas, mas só falam a sua) o Aires ensinou dois dinamarqueses a comer tremoços. Nós estamos em la Guardia-Espanha, apanhamos o ferry entre Portugal e Espanha , chegámos a um caminho lindo, com muita pedra, mas o pior está para vir há escadas, não são a direito, como é que o Aires vai conseguir com uma bicicleta dupla, um carrinho atrelado passar naquelas escadas?? Eu sento-me desanimada. Mas o que não podemos esperar do “caminho”? Os dois dinamarqueses, aparecem, como por encantamento, ajudam o Aires e dizem Chau sorridentes!! Nós ficamos para trás dizendo -“coisas do “caminho!
"Montes de Oca”
Caminho Francês 2013. Montes de Oca. Depois de uma etapa difícil, vem outra ainda mais difícil: sobe-se muito, desce-se muito, “caminho difícil para andar de bicicleta: podíamos ter ido por estrada” afinal são três montes muito altos e três descidas enormes. Sim podíamos ter ido por estrada, mas como sempre” há alguma coisa”, que nos faz mover; o que teria sido desta vez? Quando chegámos quase a S. Juan de Ortega, começamos a ver setas amarelas pintadas de fresco, parecia que alguém as andava a pintar! Era isso mesmo dois amigos de “caminho” de Burgos andava a repintar as setas: então pintaram uma seta amarela no nosso alforge que ainda hoje lá está! Conclusão: não adianta tentar fugir, o “caminho” chama por nós!!
"O pescador- peregrino"
Em 2012 encontrámo-lo no caminho da Costa e mais tarde em Santiago, disse-nos que tinha sido um pescador, que um infortúnio da vida o tinha transformado num Peregrino!!Um ano depois, um peregrino chega a Santiago e diz “ O pescador chegou!!”. Nós já tínhamos ouvido aquela voz! Era Ele: o nosso querido Peregrino!!
"Os gatos que adoravam pão"
Caminho francês-2013.Depois de mais um dia de calor, chegámos a Villamayor de Monjardin, onde escolhemos para pernoitar um simpático albergue particular. O Aires tinha comprado pão para tomarmos o pequeno almoço no outro dia; pois de certeza estava tudo fechado na manhã seguinte. No dia seguinte vai lá buscar o pão ao alforge, mas onde está o pão? Só metade? Quem levaria o pão do alforge? Pois aí estão os culpados: dois gatos que adoram pão!
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